O Inverno de Ferro e o Velho Esfarrapado
O inverno russo de 1910 foi o mais severo de que se tem memória. De tão frio, ficou conhecido como o Inverno de Ferro. Por causa do local onde fora construído, a vinte quilômetros de Moscou, um próspero e popular hotel sofreu dano particular nos negócios. Nem sequer um freguês se hospedava lá havia semanas e o dono já tinha despedido metade dos seus funcionários.
Em uma tardezinha, contudo, o hoteleiro ficou surpreso em ouvir uma batida na porta da frente. Ao abri-la, ele foi confrontado com a figura de um homem velho, esfarrapado e de barba cinzenta. O velho disse que estava caminhando na neve por muitos dias e sentia-se congelado e morrendo de fome. Será que o hoteleiro não poderia dar a ele cama e comida por aquela noite?
- Certamente posso fazer isso – disse o hoteleiro. – Por uma acomodação noturna mais uma refeição, o aluguel fica em três rubros. O senhor pode pagar? O pobre homem confessou que não possuía aquele dinheiro e que, se fosse mandando embora na noite, acabaria morrendo no frio.
O hoteleiro compadeceu-se do pobre velhinho e mandou que entrasse. Levou-o até a cozinha onde, borbulhando em cima do fogão, havia uma panela de sopa de beterraba. Retirou uma boa porção de sopa com uma concha, adicionou um pouco de creme coalhado e, por precaução, deu ao visitante metade do pão de centeio. O velho homem estava obviamente morto de fome e logo dispôs do pão e da sopa. O hoteleiro riu ao ver uma grande mancha de beterraba no bigode do visitante.
O velhinho agradeceu ao hoteleiro pela ótima comida e disse:
- Você não me verá partir pela manhã e, embora eu não tenha nenhum dinheiro agora, eu irei pagar-lhe os três rubros assim que puder.
O hoteleiro não disse nada, mas não esperou ver nem os três rubros e nem o velho homem outra vez.
Então, a neve finalmente cessou, o tempo limpou e os negócios começaram a melhorar. Na verdade, o hotel se tornou ocupado como jamais estivera antes! Na primavera, sendo um devotado homem religioso, o hoteleiro decidiu ir até a grande catedral de Moscou para agradecer a Deus pela retomada do hotel e pelo sucesso contínuo.
Ao chegar à capital, ele rumou direto para a catedral. Uma vez dentro, ele observou demoradamente o interior da antiga igreja. Seus olhos caíram então sobre inúmeros ícones que adornavam as paredes. Ele foi atraído para uma imagem em particular, em uma esquina distante.
Era uma pintura de um velho de barba cinzenta e lhe parecia vagamente familiar. Ao chegar mais perto, ele notou uma mancha escura da cor de beterraba no bigode. Céus, não podia ser! Olhando para o nome escrito aos pés da imagem, ele leu espantado: Saint Nicholas.
Imediatamente ele pegou uma vela para colocá-la na frente do ícone e, ao mover a bandeja solta onde ele fixaria a vela, sua mão tocou algo menor e metálico. Era uma moeda, um rubro. E perto dela havia mais dois! Ele as recolheu e olhou assombrado de volta para a imagem. A mancha havia sumido e o velho rosto sorria.
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